3 - TEXTO CRÍTICO, Dimas Macedo.
 

 

O nome de Vando Figueirêdo está ligado á tradição da cultura cearense, não apenas no sentido da sua continuidade, mas especialmente naquilo que as artes plásticas representam, em termos de afirmação da nossa modernidade e da nossa experiência no plano psicossocial.

O primeiro traço que podemos distinguir em sua obra, começa no ponto de interseção no qual a escritura das cores se cruza com o domínio irrecusável das formas; e até o limite em que a criatividade encontra a sua expressão quando se aproxima do moderno, sem abandonar a fisionomia do clássico e as suas linhas de maior relevo e determinação.

Surpreendido pelo ato da criação ou da metacriação, as cores e as formas nele se conjugam sempre de forma harmoniosa, impulsionando-o para as inquietações e as respostas com as quais o artista satisfaz a sua experiência diante da mutação das coisas e das grandes exigências do mundo.

O caráter moralizante de sua obra aproxima-o dos artistas cristãos de todas as idades, especialmente daqueles que fizeram da fé e do mito do sagrado as linhas de edificação de sua obra, assumindo a esperança e a epifania como matérias da sua solução poemática ou da sua natureza criativa.

A expressão da sua maturidade criadora está presente nos traços singulares e inconfundíveis da sua seleção de cores, no traço indissolúvel das suas colações ou das suas reproduções da cena social e cultural, e na figuração rupestre ou nos contornos aparentemente deformados de representações do corpo feminino.

O cotidiano, na obra artística e seminal de Vando Figueiredo, aparece sempre conjugado com a tradição e com o recorte clássico da sua alusão pictórica, pois em tudo o que faz ou realiza esse grande artista brasileiro adiciona o resultado dos seus conhecimentos, das suas pesquisas nos campos da filosofia e da estética e os insights da sua intuição criadora.

As imagens e as formas que transparecem na obra de Vando Figueiredo derivam de sua revolta interior diante da deformação da arte e da substituição do humanismo pelos valores da mercadoria. A sua arte é radical precisamente neste ponto, porém não paga tributo à estética da vitrine, porque a sua pesquisa implica na inclusão do mito e no resgate da sua dimensão simbólica.

A obra de Vando Figueiredo faz parte de uma dimensão cosmológica onde o silêncio assume o lugar da verdade no plano criativo e na qual as formas tradicionais do conhecimento são substituídas pela sua intuição visceral e pela gramática da sua formação, situada para além da pesquisa de viés acadêmico.

Segundo o poeta e artista plástico Carlos Macedo, em Vando Figueiredo “as linhas descontínuas e as formas imprecisas, tangidas à guisa de gestos próprios”, e que resultam em “pinceladas vigorosas e em disposição excessiva de matéria”, constituem traços da cena cultural e artística pós-moderna.

Fragmentos da memória e insights criativos se abraçam no traço pictórico de Vando Figueiredo, de forma que as cores da sua dicção ancestral e mitológica transformam-se em seres, objetos e paisagens do universo primitivo, onde o caos compõe o tecido do imaginário e o viés dramático que o artista vai arquitetando.

Sigbert Franklin e Sandra Vianda aproximaram a arte de Vando Figueiredo da psicologia de formação junguiana, tendo o primeiro afirmado que o trabalho de Vando Figueiredo seria um excelente objeto de estudo para Jung: “um universo em que transitam a ancestralidade da pintura e a contemporaneidade dos grafites, a sensualidade profana e a simbologia dos místicos”.

Desenhista, pintor, gravurista, escultor e professor de artes, Vando já ministrou cursos de desenho e pintura na Universidade Federal do Ceara, na Universidade Sem Fronteiras, na Faculdade Integrada da Grande Fortaleza e no Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar, e tem obras em acervos públicos e privados no Brasil e no exterior.

Sua carreira abrange mais de uma centena de exposições, nacionais e internacionais. No Brasil, podemos destacar as exposições realizadas no Espaço Cultural Câmara Cascudo, em Natal; na Casa de Cultura Lauro Alvim e no

Centro Cultural dos Correios (Rio de Janeiro); no Salão de Arte Contemporânea de Campinas (São Paulo); e na I Bienal de Arte Contemporânea de Brasília.

No estrangeiro, expôs na Florida (Estados Unidos); em Lisboa, Cascais, Sagres, Porteiras, Santa Maria da Feira e Lagos (Portugal); em Granada e Cangas (Espanha); em Paris, Santiago do Chile e Buenos Aires; e em Brande, na Dinamarca, constando no seu curriculum várias premiações e menções honrosas, face à excelência e o vigor da sua criação.

Em sua recente exposição realizada em Fortaleza, no Espaço Cultural dos Correios, Vando Figueiredo aborda sugestões e apelos extraídos do cotidiano, mas tem como motivos da sua inspiração a arqueologia de pinturas rupestres e o diálogo com grandes pintores do passado.

Através de esboços, colagens e citações esse grande artista brasileiro apropria-se de imagens ou recortes de obras artísticas de domínio histórico e recria o seu trabalho autoral carregado de matizes próprias e de intuições culturais que dizem de perto da sua permanência.

O emprego acentuado das colagens, as texturas e relevos e as exuberantes camadas de tinta evidenciam a marca inconfundível das suas digitais, e a técnica mais recente e ainda mais dinâmica da sua produção, onde se destacam também as aquarelas, as gravuras e a serigrafia.

Considero Vando Figueiredo um clássico, na linha dos que consagram uma tradição e lutam pela preservação da ancestralidade e da simbologia que garante a nossa unidade biológica.

A sua disposição de criar, a entrega diuturna aos seus motivos e objetos de trabalho, a sua cultura pessoal e a sua maneira de encarar a preservação do humano e a sua verdade mitológica fazem do seu nome uma referência de monta nas plásticas do Ceará e do Brasil.

Dimas Macedo

Poeta e crítico literário

 
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